Sertanópolis

Descarte irregular causou mortandade dos peixes

Desde o final de outubro, começaram a aparecer peixes mortos no Lago Tabocó. A quantidade impressionou e o mal cheiro começou a ficar insuportável. Em sua característica lentidão, a Prefeitura bateu cabeça e os peixes agonizaram aos milhares.

A resposta deveria ter sido imediata. Uma análise da água, aliada a consulta de pessoas com experiência no ramo, como professores e pesquisadores do Iapar, Emater, IAP ou da UEL poderiam ter apresentado uma solução mais rápida e eficaz.

Dias depois do início da mortandade, arrumaram, emprestados, três aeradores. Segundo a administração, o motivo da mortandade dos peixes seria a baixa oxigenação da água, pela falta de chuvas. Os peixes continuaram morrendo, embora em menor quantidade. Exame feito pelo próprio Saae apresentou “oxigenação dissolvida de 4,93”, muito próximo ao limite mínimo, que é de 5,0. Apenas 3 aeradores não são suficientes pela área do lago.

O meio ambiente continua dando dor de cabeça para a administração municipal. Quase todos os dias, tal qual pipoca estourando na panela quente, explodem aqui ou ali, um bueiro, uma tubulação de esgoto, uma caixa de visita. Reclamações não faltam e o mal cheiro se espalha em alguns pontos da cidade.

Na Rua Minas Gerais, vizinhos e transeuntes sofrem com a carniça que exala das tubulações, vindas da Estação Figueira, uma estação de recalque de esgotos localizada no lado norte da cidade, próximo ao Conjunto Paraíso e o Ribeirão do Cerne. Outro local que sofre é o Conjunto Esperança, localizado abaixo do Cemitério Municipal e próximo à Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) do Saae. Dias atrás, o prefeito, juntamente com funcionários e até secretários realizaram uma força tarefa no local para corrigir o problema. O trabalho não adiantou, pois, dias depois, lá estava o esgoto, novamente, sendo despejado a céu aberto.

No episódio dos peixes, o Diretor do Saae, Claudinei Barbosa mandou analisar a água da lagoa. O Jornal da Cidade solicitou uma cópia da análise feita pelo Saae através do Consórcio Intermunicipal de Saneamento do Paraná – Cispar. Nos documentos apresentados consta que algumas análises podem demorar até 30 dias úteis para ficarem prontas. Seriam as análises para apurar se houveram contaminação com agrotóxicos.

O Jornal da Cidade também colheu amostras da água e mandou fazer análise no Laboratório Biocenter, um dos melhores de Londrina. A água foi colhida dentro dos padrões de higiene solicitados, em recipientes estéreis, fornecidos pelo laboratório e acondicionados em gelo, entregues em tempo recorde para exame. Portanto, tudo feito de acordo com as normas técnicas, para não haver contestação. Da mesma forma, o laboratório contratado pelo Jornal da Cidade também solicitou prazo de 20 dias úteis para o fornecimento de resultados do Btex, que detecta a presença de agrotóxicos, descarte clandestino de particulares, lava rápidos ou postos de gasolina, lavanderias, oficinas e outras empresas urbanas poluentes. Os custos das análises foram pagos com recursos próprios do Jornal da Cidade. Veja na matéria ao lado, o comparativo entre os exames da água do Lago Tabocó.

A Força Verde e o IAP – Instituto Ambiental do Paraná, com sede em Londrina foram notificados sobre o problema, segundo apuramos. Enquanto a Prefeitura demorava para achar uma solução, lentamente, os peixes agonizaram e morreram, aos milhares. Este não é o primeiro desastre ambiental que ocorre no Lago Tabocó. Anos atrás houve o vazamento de produtos químicos da empresa Damian, que não deu em nada. Em nossa edição de setembro já havíamos denunciado a contaminação do Lago Tabocó, através de uma rede pluvial que termina ao lado do Ribeirão das Tabocas, do lado de cima da rodovia. O Ministério Público Estadual foi informado e, após a Notícia de Fato foi instaurado o Auto Nº 0140.19.000265-3. Vamos aguardar as providências.

Exames confirmam descarte irregular de efluentes contaminados no Lago

O Jornal da Cidade colheu amostras da água no Lago Tabocó e mandou analisar. O Saae também fez análise, através do Cispar – Consório Intermunicipal de Saneamento do Paraná, que possui um laboratório em Maringá. Os resultados são divergentes. Compare:

A análise do Jornal da Cidade envolveu três tipos de bactérias. A análise do Saae tinha apenas uma. Os coliformes totais deveriam apresentar ausência em 100 ml de água, embora a Sanepar tenha uma margem de aceitação, que é de 1.000 unidades formadoras de colônias. O exame do Saae tinha 7.380 unidades. Já o exame feito num laboratório particular apresentou incríveis 160.000 unidades. Um número muito alto. Já a bactéria E. Colli, uma das mais perigosas, causadora de hepatite, cólera, leptospirose e giárdia teve resultado da análise particular de 5.200 unidades, característica de esgoto a céu aberto. Água coletada na entrada do lago.

Com relação ao oxigênio dissolvido, a análise do Saae deu 4,93, sendo que o tolerável é 5,0%, ou seja, a análise do Saae estava no limite. A análise feita pelo Jornal da Cidade deu resultado acima do limite: 8,20%, com amostra recolhida três dias depois do Saae. Ou seja, o problema não era a oxigenação da água, mas os contaminantes presentes no lago. As análises microbiológicas estão todas com números maiores que o permitido. Aparecem ainda vestígios de óleos e graxos, como óleos vegetais e gorduras animais, comprovando a possibilidade haverem animais mortos nos efluentes. Esse exame também não foi solicitado pelo Saae. Os exames de agrotóxicos, estão todos no limite, enquanto o correto deveria ser ausência total. O Saae justificou a ausência dos exames toxicológicos (Btex), “pois demorariam cerca de 30 dias”. O laboratório contratado pelo jornal apresentou o resultado em 20 dias. Todos os exames estão dentro dos padrões exigidos pelo IAP, Sema, Inmetro, ABNT e outros órgãos de fiscalização. Alguns exames importantes não foram solicitados pelo Saae. Os laudos serão encaminhados ao MP e, a princípio, não nos parece culpa da população, mas sim da fiscalização que tem o dever de zelar pelo bem público e punir os responsáveis, doa a quem doer.

Descarte irregular no Lago Tabocó causou mortandade dos peixes