Jornal da Cidade

O buraco é mais embaixo

Somente 15% dos brasileiros compraram algum livro nos últimos 12 meses, de acordo com uma pesquisa realizada pela Câmara Brasileira do Livro. Ou seja: 85% das pessoas, em nosso triste país, não compraram nenhum e, ouso dizer, que um bom tanto daqueles que compraram, nem os folhearam.
Não bastasse, poucos lêem jornais, revistas ou até mesmo HQ. Este é um triste retrato da mentalidade tacanha da sociedade brasileira, especialmente daqueles que frequentaram a educação formal e ostentam, orgulhosamente, os seus diplomas.
O mais curioso é que são justamente essas pessoas, avessas ao universo sem fim dos livros, jornais e revistas, que miram seus olhos para as tenras gerações e, com o dedinho em riste, gostam de dar lições de moral sobre a importância da educação.
E, se não bastasse, são essas pessoas que dão dicas e pitacos a respeito desse ou daquele assunto, que elas ignoram por completo e que nunca quiseram conquistar. As redes sociais estão repletas de doutores nesse ou naquele assunto que nunca sequer ouviram falar. Se puxarmos as correntes da memória, iremos lembrar de amigos e colegas que mostraram seu contentamento por haver comprado uma roupa, um carro, um celular ou mostraram a felicidade de ter ido a um show, um baile ou algo similar. Porém, quantas vezes chegaram até nós sorrindo, se derramando de alegria por ter comprado um livro que, há muito, queria ler. Quantas vezes um amigo chegou, faceiro até nós, para contar que terminou de ler um livro, assinado um jornal ou folheado uma revista, sorvendo este ou aquele artigo.
Quantas vezes, meu bom amigo, nós fizemos isso. Quantas? Pois é. Imaginei que a resposta seria essa.
Infelizmente, o imediatismo preguiçoso, em nosso país, anda de mãos dadas com o desamor ao conhecimento e com a ignorância presunçosa e isso, não é de agora não. Vem de longa data. Ou seja, o universo hightec, apenas potencializou esse traço de uma forma excepcional.
De mais a mais, ignora-se o fato que a virtude do estudo, a prática da leitura não pode ser simplesmente ensinada com o uso de plataformas digitais ou com chiliques histéricos de indignação fingida, porque as virtudes não podem ser ensinadas. Elas podem apenas ser aprendidas através do exemplo.
Quando um pai, um tio, os adultos de modo geral, passam a demonstrar amor pelos livros, pela leitura, quando as crianças têm a oportunidade de vê-los imersos na leitura, da mesma maneira que os veem imersos na programação televisiva ou outras coisinhas mais, com toda certeza elas passarão a desejar esse misterioso objeto do saber.
Devido a isso, é que a educação das tenras gerações começa com a correção da nossa. Países desenvolvidos dão especial atenção à leitura, à educação. É a solução de muitas de nossas mazelas. Meio ambiente, educação como um saber, educação como uma fonte de conhecimento, resolução de problemas, ciências e, porque não, fantasias.
Possivelmente, nunca leu um livro sobre o tema. Talvez nunca tenha lido livro algum, sobre coisa alguma. Sugerimos, Elogio à Loucura, de Erasmo de Rotterdam (enfadonho no início, mas inebriante depois de determinado momento), os Dois Brasis, sobre a exploração do Brasil e a colonização da Nova Inglaterra, hoje Estados Unidos da América. Leia bula de remédio, leia enciclopédia, leia livros. Leia qualquer coisa, até mesmo nosso humilde jornal, mas leia. Nunca deixe de ler. Sempre se aprende algo.