A imprensa também erra
Paulo Francis, com seu típico sarcasmo, dizia que o jornalismo é a segunda profissão mais antiga do mundo. A primeira, segundo a galhofa popular, todos sabem qual é. Ele também dizia que, em matéria de exatidão, nem ao menos a data dos jornais se poderia confiar, sendo oportuno procurar um calendário para confirmar. Em sintonia com suas cáusticas palavras, podemos evocar um trecho da canção “Cowboy Fora da Lei”, de Raul Seixas, que diz que “não preciso ler jornais, mentir sozinho sou capaz”. Exageros exuberantes à parte, sempre foi e sempre será sinal de prudência, ter um pé atrás aos meios de comunicação, de modo geral. Em frente à grande mídia, de maneira especial, é preciso uma boa dose de desconfiança. Não é preciso uma suspeita sisuda, cheia de pachorra, nada disso. Refiro-me àquela dúvida salutar que procurar dar tempo ao tempo, ciente de que a verdade, como nos ensina Santo Tomás de Aquino, “é filha do tempo”. Ela não tem pressa, não usa whattsapp, nem tem contrato com grandes emissoras de TV. A verdade dói. Ela sempre machuca, seja qual for a intensidade. Isso porque, todos nós, temos a mancha da mentira em nossos corações. Mentimos para todos, principalmente para nós mesmos e, desdenhando desse fato, com a maior credulidade, repetimos, de forma insensata, incontáveis trololós que são repetidos pela mídia, como se fossem revelações proféticas. Quantas e quantas vezes repassamos uma notícia, um sei-lá-o-quê nos foi repassado, sem ao menos parar para pensar um pouco sobre a sua procedência, sua razoabilidade, sua necessidade e, claro, se é verdadeiro. Acontece muito nas benditas e beneditas redes sociais. A pessoa senta o dedo, repassa para milhares de pessoas sem conferir se a fonte é confiável, se o fato ou a notícia é verdadeira. Tudo pelo simples prazer de compartilhar, pelo simples prazer de mostrar aquilo que recebeu, verdadeiro ou não. A história do jornalismo é recheada de erros, mentiras, intrigas, leviandades, armações e, claro, muita vaidade. Ignorar esse dado assustador é uma atitude temerária, para não dizer outra coisa. Nesse sentido, se gostamos de dar uma bordoada nos outros com uma manchete do último minuto, crentes que estamos montados na razão, está na hora de revermos nossos conceitos para não terminarmos servindo de montaria para aqueles que tem por ofício manipular a opinião alheia.