Pioneirismo que resiste ao tempo
Com muito orgulho, nossa reportagem foi recebida pela pioneira mais idosa da cidade: Santa Pazinato Rossato, de incríveis 105 anos. Nascida em maio de 1918, em Birigui, Estado de São Paulo, atravessou séculos, enfrentou a mortal gripe espanhola e a não menos devastadora Covid-19.
Santa foi casada com o também pioneiro Romildo Rossato. Teve cinco filhos, sendo quatro mulheres e um homem. Ela ainda criou uma sobrinha, cuja mãe havia falecido. Tem 13 netos e 20 bisnetos.
Chegou em Sertanópolis em outubro de 1940 para morar num sítio, na Água do Couro do Boi. Lá ficou por 16 anos, até se mudar para a cidade, então um pequeno povoado, com algumas poucas casas. A cidade tinha então apenas seis anos de fundação. Para vir de Birigui a Sertanópolis, foram necessários 2 dias e uma noite, de trem de ferro. No sítio, lavava roupas na beira do rio, sobre uma tábua de madeira. A água para beber era captada numa mina, entre as pedras, no meio da mata.
No sítio, sua primeira casa foi um rancho de palmito com chão de terra batida, com fogão a lenha e ferro de passar roupa com brasas. Lá nasceram, nas mãos de uma parteira, quatro de seus cinco filhos.
Somente em 1956 mudou-se para a cidade e foi morar numa moderníssima casa de madeira, uma conquista de poucos, já que a maioria das casas era de pau a pique ou construída com troncos de palmito, abundantes na região do sertão norte paranaense, recém desbravado.
A madeira foi serrada na antiga serraria do Sr. Tino Totti, outro pioneiro, já falecido. Dona Santa lembra que o telhado era feito de madeira. “A iluminação era com lamparinas de querosene e muitas vezes faltava açúcar para fazer café. O Romildo (seu marido), construiu um engenho onde tirava a garapa. Era com ela que a gente adoçava o café”, lembra.
Como havia pouco arroz, para aumentar o volume, colocavam mandioca para cozinhar junto, pois arroz quase não havia na época. “Muita gente morava nos sítios e um ajudava o outro. Éramos vizinhos das famílias Foléis, Betiol e do Sr. João Pequeno. Foram tempos difíceis”, recorda.
Ao perguntar o motivo da longevidade, Dona Santa disse: Café e marmelada. Sem entender, pedimos para ela explicar. “A gente carpia café e havia um mato, entre os pés de café que chamava marmelada. Era uma praga. Difícil de acabar. Só carpindo”, explicou. O riso foi geral. Imaginamos que fosse o fruto do marmelo, mas não. Foram 83 anos carpindo a marmelada dos pés de café. Esse foi o segredo da sua longevidade. Muito trabalho, hábitos saudáveis, vida simples, amor às pessoas.
Quando deixou o sítio e veio para Sertanópolis, seu marido, Romildo, foi proprietário de uma chácara, localizada às margens da cidade. Não havia o prolongamento da avenida. De um lado a chácara dos Rossato e do outro lado o sítio do Garrucha, onde hoje está o Jardim Valtinei e outros bairros. As casas eram quase todas de madeira e as olarias estavam iniciando. Não havia asfalto na cidade e o prefeito da época era Vespertino Pimpão. Romido doou o terreno onde hoje está a igreja do Jardim Amâncio Secco. A chácara Rossato ia do limite da cidade, na Rua Santa Catarina, até onde hoje está a igreja. No local criava gado, galinhas, porcos e alguns pés de café. Era o sustento da família
Dona Santa Rossato é a moradora mais idosa de Sertanópolis e foi um orgulho muito grande para nosso jornal poder registrar, ainda em vida, a história, os causos, os risos e tristezas de uma época. Este jornalista, hoje com 67 anos, nasceu em Sertanópolis e foi embalado, na infância, por suas filhas, que adoravam brincar com o bebê. Também temos história para contar e raízes para fincar. Foi um grande prazer, Dona Santa. Que Deus ainda a tenha por muitos e muitos anos.
No aniversário da cidade, que em 06 de junho completa 89 anos e foi emancipada duas vezes, uma em 1932 e outra em 1934, esta é nossa homenagem à pioneira viva mais idosa de Sertanópolis.