Quando o esporte vira agente de mudança: ESG, meio ambiente e inclusão
Como escreveu Nelson Mandela, o esporte tem “o poder de mover o mundo”. E dessa capacidade que os esportes de massa têm de mobilização, a política ESG pode (e deve) se beneficiar. Antes tarde do que mais tarde, a comunidade esportiva tem percebido que investir em governança, proteção ambiental e responsabilidade social é um dever — mas também pode ser uma poderosa estratégia de captação de recursos. No livro Uma Breve História da Igualdade, o economista francês Thomas Piketty oferece uma leitura surpreendentemente otimista sobre os avanços rumo à equidade, mesmo em meio a retrocessos históricos. Inspirado por essa visão, é possível também projetar esperança no esporte — desde que os compromissos com conformidade, meio ambiente e direitos humanos deixem o papel e se tornem ação. Para vencer a desesperança Eu trabalho, penso e pesquiso sobre iniciativas que possam deixar o esporte melhor. Assim, se chega a ideias importantes como a ação da Federação Paraense de Futebol: cuidar do meio ambiente passou a ser também um compromisso do esporte. Neste ano, a FPF promoveu o Parazão Sustentável, o primeiro campeonato estadual temático do Brasil focado no meio ambiente. Com campanhas de educação ambiental, redução de resíduos nos estádios e incentivo a práticas sustentáveis por parte dos clubes, a ação foi bem recebida por torcedores, gestores e imprensa — e se tornou referência para outras federações. O esporte mobiliza milhões, investimentos bilionários e possui um poder simbólico imenso. Mas essa potência vem acompanhada de impactos ambientais muitas vezes devastadores. Megaeventos como os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo envolvem deslocamentos massivos, obras de grande escala e pressão sobre ecossistemas frágeis. A responsabilidade ecológica não é um detalhe: é central. O alerta ambiental não é novo. O Comitê Olímpico Internacional (COI) só passou a considerar a pauta ecológica após forte pressão social. Os Jogos de Inverno de Albertville, em 1992, foram taxados de “desastre ambiental”. Ativistas protestaram, afetando diretamente a imagem do COI. Como descreve Antoine Duval no Journal of Law, “sem o dano causado à imagem transnacional em Albertville, há poucas evidências de que o COI teria mudado sua política ambiental”. Dois anos depois, o meio ambiente virou pilar oficial do Olimpismo, e a Carta Olímpica passou a prever “preocupação razoável” com o meio ambiente. A Fifa trilhou caminho semelhante. Pressionada por denúncias e exigências sociais, lançou sua Estratégia de Sustentabilidade, prometendo reduzir pela metade suas emissões até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono até 2040. Desde a Copa de 2026, passou a exigir de candidaturas planos robustos de gestão ambiental, compensação de carbono e uso de certificações verdes. Ainda que haja episódios de greenwashing — como o caso do Catar —, a entidade está sendo forçada a reagir. No Brasil, a CBF ainda dá passos tímidos, mas começa a dialogar com a pauta. Por isso, o exemplo da FPF é tão relevante: mostra que não é preciso esperar por pressão internacional para agir. Dá para liderar desde agora.