Pandemia

Pandemia muda perfil do investimento no país

Enquanto o número de investidores da população pertencentes às classes A e B aumentou durante a pandemia no país, o da classe C caiu. É o que aponta a quarta edição da pesquisa ‘Raio X do Investidor Brasileiro’, realizada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em parceria com o Datafolha, que retrata as preferências e o comportamento do investidor brasileiro em 2020.

Em 2019, 61,1% das pessoas de classe A investiram, e em 2020 esse percentual saltou para 71,6%. O aumento também ocorreu na classe B, passando de 52,7% em 2019 para 54,3% no ano passado. Por outro lado, o percentual de investidores reduziu de 39,2% para 29,9% na classe C, que representa 48% dos investidores no Brasil – a classe B soma 44% e a A, 8%.

Enquanto a classe C deixou de investir e/ou utilizou suas reservas financeiras, as classes A e B reagiram a esse ambiente de incerteza elevando a reserva precaucional, como explica Roberto Rodrigues, economista e gerente de investimento da Sicredi União PR/SP.

“O crescimento do percentual de investidores nas classes A e B foi reflexo do aumento na percepção da importância de ter reserva financeira para emergências. Cerca de 27% dos investidores brasileiros alegaram que estão guardando dinheiro por segurança e esse objetivo superou a intenção de compra de imóvel ou de um veículo, por exemplo. Até 2019, o principal motivo pelo qual o brasileiro guardava dinheiro era comprar um imóvel ou quitar o financiamento imobiliário (35% dos investidores), já em 2020 esse motivo caiu para a segunda posição (26% dos investidores)”, detalha.

Produtos financeiros

A pesquisa também revela que os brasileiros estão usando mais os produtos financeiros como opção de investimento. “Em ações, por exemplo, o número de investidores saltou de 1,5 milhão, em 2019, para 3,4 milhões, em 2020. Um movimento similar aconteceu no número de investidores em fundos, que passou de 2,6 milhões, em 2019, para 4,7 milhões no ano passado. No caso da poupança houve redução de 35,6 milhões de investidores para 30,2 milhões”, explica Rodrigues.

Além da pandemia, 2020 foi um ano marcado por um ambiente de taxa de juros historicamente baixas no Brasil, de forma que os dados da pesquisa retratam os impactos sobre a dinâmica de consumo e renda e, consequentemente, na forma do brasileiro investir. “A busca por investimentos com maior potencial de rendimento e, portanto, de maior risco, é reflexo do ambiente de taxa de juros historicamente baixas. Mesmo agora, com a Selic voltando a subir, essa busca por diversificação nos investimentos não deve sofrer inflexão, a considerar que a inflação está em alta, de modo que o juro real (diferença entre rendimentos menos inflação) das aplicações em renda fixa continua baixo ou até negativo”, destaca o economista.

Ainda de acordo com ele, há uma questão geracional em curso: os investidores jovens aplicam de forma diferente, além de terem interesse em aprender mais sobre investimentos, conforme revelou pesquisa promovida pela B3 no ano passado.

“Estas mudanças nas motivações e na forma como o brasileiro investe refletem no relacionamento com as instituições financeiras e, certamente, serão objetos de estudo e insumo para mais inovações, principalmente na forma de se comunicar com os investidores, como fornecer opções e informações sobre alternativas ao portfólio de investimentos”, finaliza Rodrigues.

As entrevistas para a quarta edição da pesquisa ‘Raio X do Investidor’ aconteceram entre 17 de novembro e 17 de dezembro do ano passado. Participaram 3.408 pessoas economicamente ativas, que vivem de renda ou são aposentadas, de 16 anos ou mais, pertencentes às classes A, B e C nas cinco regiões do Brasil. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, com nível de confiança de 95%.

Educação financeira

Para ajudar a população a ter uma vida financeira saudável, a Sicredi União PR/SP desenvolve o programa Cooperação na Ponta do Lápis.

Mais de 160 voluntários, entre colaboradores da cooperativa e pessoas da própria comunidade que participam de capacitação, são disseminadores de conhecimentos sobre educação financeira. Apenas no ano passado o programa impactou mais de 63 mil pessoas, de 71 municípios, entre crianças, jovens, pessoas físicas e jurídicas em 154 ações.