Dedo de prosa“Nada é impossível para o mestre dos sábios”
Nossa! Quem foi o desastrado, o desmiolado que teve a ousadia, a petulância de jogar esse enorme saco de lixo bem aqui no meio da calçada? Além de ser um perigo para os transeuntes, não pensou nos cães que podem deixar este local num verdadeiro caos, devido a grande sujeira em seu interior? Não bastasse, esta rua ser iluminada pela claridade com o reflexo da lua, e o asfalto, todo esburacado. Como é fácil imaginar o pouco descaso procedente da prefeitura, não por falta de reclamações pessoais, cartas e telefonemas e sei mais o quê! Tecia também alguns palavrões, que foi ouvido por uma pessoa que por ali passava e se detinha ao ouvir daquele senhor exaltado, por ter quase tropeçado naquele trambolho e sofrido uma queda, indo ao chão e sofrido um acidente, talvez indo parar num pronto socorro. Dando sequência ao seu desabafo, não pestanejava em emendar: Se eu não tivesse dois bons olhos e não fosse cauteloso como sou, sei lá o que poderia ter acontecido comigo. Talvez até quebrado um braço ou uma perna, devido a minha idade, já um tanto avantajada. Ele fechou os olhos por uns instantes e viu sua mente refletida numa tela de cinema ou televisão, deitado numa maca de hospital, rodeado por diversos médicos e enfermeiras, todos apressados, outros correndo para socorrê-lo e acudi-lo, devido ao grau de enfermidade que tinha sofrido. Quando abriu os olhos, viu que tudo não passava de uma miragem e estava tudo bem. Suspirou aliviado e deu graças a Deus. No estado de fúria que se encontrava, não sentiu quando uma mão pousou em seus ombros e com a voz doce e meiga, proferiu algumas palavras, que o deixou bastante acalmado, dizendo que certa vez, não viu um saco de lixo como aquele e que lhe causou uma queda e por pouco, não caiu naquele local, mal ou nada iluminado, um local de grande perigo, que são deixados ali pelos próprios moradores, com também por bandidos, drogados, ladrões e toda espécie de animais. A falta de iluminação propicia a facilidade de suas frequências. Não somos de forma alguma ouvidos pelos nossos administradores. Se faz urgente a colocação de lâmpadas que iluminem este bairro. Enquanto dialogavam, não perceberam uma figura completamente distante de nós. Corpo, cabeça, braços. Não foi possível desvendar o que era aquilo, um ser de outro mundo jamais imaginável, que deixou aquelas duas pessoas perplexas, corações disparados, não fosse aquele sorriso amável, tinha posto aqueles dois humanos numa corrida desenfreada. Mas a gentileza daquela coisa esquisita e cheia de graça, os fez acalmarem e os fizeram ouvir: Não se assustem. Sou amigo e estou aqui para sanar um problema que aqui e agora está acontecendo. Primeiro vou esclarecer quem sou e de onde vim. Fiquem tranquilos, sou da paz e vim por ordem do Senhor Jesus. Eu sou a Lua e vim lá dos céus para resolver esse assunto do lixo aqui na calçada. Vocês não precisam me dizer nada, porque, lá de cima do meu habitat, vejo tudo o que acontece aqui nesse bairro, na terra. Não meus amigos, isto não é uma brincadeira, depois de teu ter resolvido tudo, vocês me verão subindo aos céus, onde moro. Pediu licença a aqueles senhores e se dirigiu à casa daquela que é a causadora de toda aquela confusão. Aquelas duas pessoas se entreolharam e, incrédulos, disseram: Será isso uma verdade? Não será um amigo fantasiado pro Carnaval ou um bandido que veio nos assaltar, um engraçadinho que veio tirar uma com nossa cara? Não, meus amigos. Isto não é uma farsa ou uma brincadeira. Depois de eu ter deixado este embrulho, vocês me verão subindo aos céus, onde fica meu habitat. Caminhou até a casa daquele que provocou toda confusão todo e bateu palmas. Lá veio ela e sem cumprimenta-los e com cara de poucos amigos, disse: “Diga logo o que quer”. Sem notar, aquela pessoa esquisita, diga logo, o que você quer, seu cara de espantalho. Estou com muito sono e quero dormir. Persona non grata. Escute aqui, minha senhora desvairada, e sem um pingo de educação. Não vou dizer quem sou, nem de onde vim, pois você não merece saber nem quem sou. E quer saber mais? Aqui está uma multa por desafiar as leis da saúde e da higiene e, na próxima contravenção, vou deixa-la fria, como uma barra de gelo. E se despedindo daqueles dois amigos, foi subindo aos poucos, até sumir entre as estrelas.Quando a morte nos rouba a vida, é porque Deus está precisando de mais um jardineiro.João Caldeirão O poetinha.