Gerações anteriores, que aprenderam com o quadro negro, agora ensinam os hiperconectados
Distantes e próximos. Duas palavras que, embora representam o antagonismo uma da outra, expressam muito bem o momento em que vivemos. Nos lares brasileiros, crianças e adolescentes se unem às mães, pais ou outros responsáveis, numa tentativa constante de criar, de uma semana para outra, uma nova rotina. Se o afastamento social assustou, por frustrar expectativas e muitos projetos para este ano, por outro traz, para aqueles que os têm, o reconhecimento que a tecnologia, empregada em seus diversos canais, torna menos angustiante passar pela quarentena. Das plataformas de streaming, que liberaram filmes, séries e mais canais de jornalismo, aos aplicativos de entrega, seja alimento ou qualquer outro item, os sinais de 4 ou 5G e o wi-fi se tornaram grandes aliados nestes últimos dias.
Nesta esteira tecnológica, revelou-se mais um: a educação. Para as famílias que cresceram e foram educadas em salas de aula tradicionais, com mesas e cadeiras enfileiradas, quadro negro, giz e talvez um retroprojetor ou filmes em VHS, o leque que se abre é vasto, estranho e duvidoso. E mesmo para os jovens, que já nasceram hiperconectados e estavam acostumados a ter o uso da tecnologia como um meio no processo pedagógico, estranham-se de vestir de avatar ao invés do uniforme. Cabe a escola se tornar um facilitador desse processo, informando e se fazendo entender aos responsáveis sobre o propósito pedagógico das atividades para auxiliar o aluno, que, mesmo mais apto a mudança, pode estranhar o uso da tecnologia não mais como o meio como as aulas acontecem, mas sim como o fim.
Os conteúdos precisam ser mantidos e a rotina de estudos preservada, respeitando os horários já programados. A sugestão é que o professor esteja disponível nos horários das aulas presenciais e promova debates e outras atividades e interações que os deixem motivados. Quando oferecemos as aulas e o atendimento no mesmo horário, um dos objetivos é justamente ajudá-los a gerir o tempo, pois o estudante entende que é aquele o momento que ele tem e que não pode ser desperdiçado. Já a concentração, que está ligada intrinsecamente com a motivação, tem que incluir atividades que sejam contextualizadas e dinâmicas. É difícil, sem dúvida alguma, mas contamos com um aspecto a nosso favor: os alunos de hoje são mais aptos à mudança, pois nasceram num mundo tecnológico e, portanto, com essa cultura já inserida em seus comportamentos.
Mas vale se atentar que investir nas facilidades tecnológicas das crianças e jovens não significa deixar de lado o convívio social, uma crítica, por sinal, bastante errônea ao processo de digitalização. Exemplo disto são os aplicativos de comunicação, que usamos para interagir com familiares, amigos de infância, grupos de condomínio e tantas outras pessoas que, até então, no presencial era até menos frequente. Os estudantes devem continuar se relacionando, seja com trabalhos em grupo ou propostas de debates sobre temas sempre contextualizados. E, quanto ao processo avaliativo, a adequação também é válida e a participação em chats e fóruns, presença em aulas por meio de vídeo e entrega de materiais entram na conta final.
Estas transições pelas quais vivemos não são fáceis, inclusive para as escolas, que embora algumas já até estejam acostumadas a explorar o uso tecnológico para aplicação das disciplinas, se veem agora dependentes dela. Fica, a cada dia que passa, mais claro a importância do papel do educador, que agora deve ser um profissional gabaritado para influenciar a busca de conhecimentos, guiar a rotina de estudos, desenvolver habilidades de socialização e aperfeiçoar tantas outras que vão sendo apresentadas ao longo do processo acadêmico. O uso da tecnologia, que já é uma realidade há alguns anos, mostra o seu lado catalisador da educação, aquele que facilita a apresentação de conteúdos e conecta a todos, em qualquer lugar do globo. Mas é também a tecnologia que vem mostrando que o contato físico é extremamente relevante no dia a dia de qualquer pessoa.